Filho de faxineira, jovem de Jaboatão se forma nos EUA

Redação Notícia Boa Bahia
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Fred Ramon, 24 anos, é a inspiração que o Brasil gosta de ver. Nascido e criado na periferia de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, o jovem pernambucano superou uma infância marcada por dificuldades financeiras para conquistar um diploma universitário nos Estados Unidos — e ser o primeiro da família a concluir o ensino superior.

 

“Minha mãe trabalhava muito, e mesmo assim não dava. A gente passava por muitos apertos.”

A MTV, o inglês e o começo de um sonho

Ainda na infância, foi impactado pela TV aberta. Acompanhando clipes da MTV após a escola, Fred desenvolveu curiosidade pela língua inglesa e sonhava em aprender o idioma. Aos 13 anos, pediu à mãe para fazer um curso de inglês, mas ouviu que não havia condições. Foi então que começou a frequentar escondido aulas de um curso público.

Determinação não faltava: aos 15, já se comunicava bem em inglês e, na escola, se destacava em múltiplas frentes — foi líder de classe, presidiu grêmio estudantil, participou de projetos sociais e até dançou balé contemporâneo em apresentações culturais.

“Eu queria transformar minha realidade e a da minha comunidade.”

Pouco após concluir o ensino médio, surgiu uma oportunidade inesperada: trabalhar em um cruzeiro internacional. Fred passou por um processo seletivo, foi aprovado e, sem nunca ter saído do Brasil, foi parar em Dubai, contratado por uma companhia marítima como instrutor de dança.

“Foi surreal. Eu nunca tinha saído do país e, de repente, estava em Dubai, dançando em festas de gala com europeus.”

Com a chegada da pandemia, precisou retornar ao Brasil. Durante o isolamento, decidiu mirar ainda mais alto: estudar em uma universidade norte-americana.

Fred passou meses recluso, estudando, refazendo seu histórico escolar e se preparando para os testes de admissão dos EUA. Foi aprovado em nove instituições, e escolheu a Universidade Whittier, na Califórnia, que ofereceu uma bolsa de US$ 35 mil anuais. Faltavam ainda US$ 31 mil por ano — mais de R$ 170 mil — para cobrir os demais custos.

Sua história comoveu uma colunista de Recife, que publicou um texto sobre sua trajetória. A matéria viralizou.

“De repente, estavam falando de mim em São Paulo, em Brasília, em todo lugar. O pessoal de uma emissora veio à minha casa, fizeram entrevista com minha mãe.”

“Ele e a esposa fizeram uma videochamada com minha família. Fizeram tudo: contato com a faculdade, ajuda com visto, comprovação de bolsa. Foi aí que tudo virou realidade.”

Mesmo nos EUA, a vida não foi fácil. Além dos estudos em Ciência da Computação e Administração, Fred precisou trabalhar como assistente de educação, analista de dados e até arrecadador de fundos para a própria faculdade.

No terceiro ano, mais um obstáculo: seus patrocinadores não conseguiram manter o apoio financeiro.

“Eles mostraram relatórios financeiros, tinham perdido uma filial da empresa. Eu entendi, mas fiquei desesperado.”

“A faculdade começou a ser pressionada por jornais do Brasil e até de fora. Me chamaram, viram todo o material da vaquinha, e me deram mais duas bolsas extras. Foi assim que consegui me formar”, conta.

 

 

“E minha faculdade é uma das mais diversas dos Estados Unidos. Ela está no ranking de faculdades com mais diversidade étnica. Eu via gente de todo canto do mundo: França, Samoa, Austrália, Etiópia, Nigéria e China.”

A adaptação cultural foi um processo mais lento. “Não foi pelo inglês. Foi pelo individualismo. Lá é cada um por si. Aqui no Brasil a gente tem mais calor humano, mais conexão. Mas aprendi a viver entre os dois mundos”, explica.

“Alguns terminaram o ensino médio, mas faculdade, só eu. Ver minha mãe orgulhosa é surreal. Nunca achei que ia conseguir, mas com ajuda, insistência, a gente chega.”

Ele se considera uma pessoa entusiasmada e multifacetada. “Cresci com a influência da arte. É algo que está no meu dia a dia. Não consigo passar um dia sem escutar música”, diz. Mas isso não o impediu de também se encontrar no universo das ciências exatas.

 

“Eu vim das artes, mas a área de exatas nunca foi um problema para mim. Muita gente fala ‘eu odeio matemática, odeio ciências’, mas comigo foi diferente. Quando eu tinha 14 anos, minha mãe comprou um laptop. A gente ainda não tinha computador em casa. Aquilo foi uma revolução para mim.”

Para ele, tudo é questão de foco: “Eu acho que é preciso ter curiosidade e buscar. Se não fosse pela minha intuição de pesquisar coisas na internet, eu nunca teria descoberto essa faculdade”, conta.

Agora, seu desejo é continuar nos Estados Unidos o máximo de tempo que puder. De férias no Brasil, volta no próximo mês para trabalhar em uma pesquisa já em andamento na universidade.

“Ainda tenho muito a aprender. Todo dia é dia de aprender.”

 

Fonte: Bnews

Foto: Reprodução Instagram

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