Estudo brasileiro identifica bactéria benigna associada à maior sobrevida em câncer de cabeça e pescoço
Uma pesquisa conduzida por cientistas brasileiros revelou que a presença de uma bactéria benigna nos tumores pode estar relacionada a uma maior sobrevida em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. O estudo, liderado pelo Hospital de Amor, em Barretos, desafia concepções anteriores sobre o papel das bactérias no desenvolvimento do câncer e aponta para novas possibilidades terapêuticas.
A bactéria Fusobacterium nucleatum, encontrada naturalmente na boca e anteriormente associada a inflamações bucais, surpreendeu os pesquisadores ao demonstrar efeito positivo quando presente no tecido tumoral. Pacientes com essa bactéria nos tumores viveram, em média, 60 meses, enquanto aqueles sem sua presença tiveram uma média de 36 meses de sobrevida.
Utilizando uma técnica ultrassensível de PCR digital, os pesquisadores analisaram 94 amostras e detectaram a bactéria em quase 60% dos casos, especialmente em tumores localizados na orofaringe. Os resultados foram publicados no Journal of Oral Microbiology e sugerem que a bactéria pode ter uma atuação imunológica no microambiente tumoral, favorecendo a resposta ao tratamento.
A descoberta pode transformar a compreensão sobre o papel do microbioma no câncer. A presença da bactéria pode indicar tumores menos agressivos ou uma resposta imune mais eficaz, ainda que o mecanismo exato dessa interação não esteja totalmente esclarecido.
Além disso, os cientistas já investigam se a Fusobacterium nucleatum pode influenciar a eficácia de tratamentos tradicionais como quimioterapia e radioterapia. Caso esse papel seja confirmado, a bactéria poderá se tornar um biomarcador promissor para personalização de terapias oncológicas.
Implicações para a saúde pública
No Brasil, o câncer de cabeça e pescoço é comum e, em cerca de 80% dos casos, é diagnosticado em estágios avançados, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nesse contexto, a identificação de marcadores biológicos como essa bactéria benigna pode contribuir para diagnósticos mais precoces e estratégias terapêuticas mais eficazes.
O estudo também levanta a possibilidade de uso de antibióticos como complemento ao tratamento oncológico, desde que a atuação benéfica da bactéria seja comprovada em outros tipos de tumor.